segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A publicidade tem por fim resolver os problemas do anunciante no momento em que é divulgada. Um exemplo da Paraíba, no século XIX... Cândida a criôla fula é uma prova com 150 anos de história...

Há uma boa coleção de livros tratando do início da publicidade no Brasil. O século XX é considerado o ponto de partida da boa propaganda que começamos a criar no Brasil devido a uma série de fatores favoráveis:

1. Crescimento do mercado interno
2. Aparecimento de mais jornais e revistas
3. Nascimento do rádio
4. Inauguração das primeiras emissoras de televisão

Claro que o crescimento das vendas no comércio está diretamente vinculado à proliferação dos reclames – como eram chamados os anúncios desde que começaram a surgir.

Mas, o Brasil chegou ao século XX já acostumado a ler nos jornais os anúncios de produtos, serviços e venda ou aluguel de pessoas. O Jornal do Commercio do Rio de Janeiro deveu os seus primeiros anos ao seu sucesso como mídia para atender às necessidades do mercado.

Num trabalho acadêmico de uma pesquisadora paraibana Roseane B. Feitosa Nicolau encontrei um anúncio classificado que tem o dom de nos levar numa viagem no tempo e nos possibilitar uma olhada no que bem poderia transformar-se numa novela ou filme de época.

No dia 14 de setembro do anno passado fugio do abaixo assignado uma escrava de sua propriedade, de nome Cândida, de 20 a 22 annos de idade, e com os seguintes signaes: criôla fula, boca grande, dentes limados e bem alvos, olhos grandes e muito vivos, estatura alta e não muito secca, e andando estalam-lhe as juntas dos pés; a referida escrava foi da Sra D. Joanna, sogra do Sr. Barbalho, da Serra d’Araruna, em cujo lugar tem ella pais, irmãos e mais parentes, e por conseguinte apoio, foi também ao Sr. Capitão Justiniano, morador na mesma Serra, que com ella fez pagamento n’esta praça ao Sr. José d’Azevedo Maia, a quem comprei-a. Em conseqüência de muitas recommendações e annuncios, foi presa em dias de junho no engelho Sucurú em Goianinha, província do Rio Grande do Norte, pelo proprietario de dito engenho, o Sr. Antonio Bento de Araújo Lima, que m’a remetteu sob a guarda de Antonio Felix de Lima,o qual pernoitando em Miriri no dia 13 de julho, ali a deixou novamente fugir.O mesmo abaixo assignado não só recommenda a prisão da referida escrava, como gratifica com cem mil réis a quem a pegar, e trouxer à sua casa nesta capiatal, rua das Convertidas. n.37. Parahyba, 2 de setembro de 1862. Antonio Francisco Ramos
(O Publicador, 3 de setembro de 1862)-


O que chama mais a atenção nesta peça publicitária publicada há exatos 150 anos:

1. A fuga da Cândida havia ocorrido um ano antes da publicação deste anúncio.
2. O Antonio Francisco Ramos descreve Cândida com muito cuidado fixando-se em alguns detalhes que devem mais do que justificar o seu empenho em reencontrá-la:

a. 20 a 22 anos de idade
b. Criôla fula – (o que será explicado a seguir)
c. Boca grande
d. Dentes limados
e. Bem alvos
f. Olhos grandes e muito vivos
g. Estatura alta
h. Não muito secca
i. Andando estalam-lhe as juntas dos pés

3. Conta a história da aquisição, da fuga e da prisão de Cândida em junho de 1862 no engenho Sucurú em Goianinha cujo proprietário Antonio Bento de Araújo Lima a prendeu e a remeteu sob guarda de Antonio Felix de Lima para o seu proprietário.

4. No caminho o Antonio Felix resolveu pernoitar em Miriri e no dia 13 de julho de 1862 a deixou novamente fugir.

5. Então o anunciante “abaixo assinado” recomenda a prisão da referida escrava e promete gratificar com cem mil réis quem a trouxer na capital da Paraíba na rua das Convertidas n.37 .

6. O anúncio saiu no jornal “O Publicador” no dia 3 de setembro de 1862


Uma criôla fula era originária de Cabo Verde onde a língua falada era o criolo uma mistura de dialeto africano com português em que têm origem algumas particularidades da fala brasileira como é o caso do “Modi”.

Modi fazer alguma coisa quer dizer “Para fazer alguma coisa”, sendo o “Modi” bem mais sintético.

Os Cabo Verdianos têm características de beleza bem especiais e a foto de Cândida, seguindo a descrição de seu proprietário poderia ser a da jovem da foto identificada no Google como uma beleza cabo verdiana.

A recompensa de 100 mil réis era em 1862 o dobro do preço de uma escrava de 18 a 40 anos.

Era um pagamento que tornaria quem se dispusesse a trazer Cândida de volta a casa de Antonio muito mais atento para evitar uma nova fuga.

Não há como descobrir-se o que aconteceu depois do anúncio, mas para isto há apenas duas hipóteses: Cândida ter sido devolvida a Antonio , ou Antonio não receber Cândida de volta.

Nos dois casos existem várias das situações dramáticas das 36 listadas por George Polti em 1916 em que você vai encontrar todos os plots para escrever qualquer novela, desde que tenha talento para isto.

Mas, no caso paraibano da Cândida é impossível não ceder à tentação de imaginar o frustrado Antonio ver um ano se passar e Cândida não dar o ar de sua graça. Em sua casa na Paraíba.

O pior foi a esperança em junho desvanecida pela desatenção de Antonio Felix que deixou Cândida, mais uma vez desaparecer sem deixar vestígio.

Algo absolutamente inacreditável para quem ao viajar pelo sertão olhasse em volta pois a presença de Cândida seria impossível de passar despercebida em qualquer lugar em que estivesse.

Cândida, sendo vista deste momento, 150 anos após a sua segunda fuga, parece bem mais esperta do que todos os Antonios que a cercavam.

O classificado no O Publicador venceu a barreira dos 150 anos e chegou até nós evidenciando quê forças regiam o mercado, a cabeça dos seus líderes e a certeza de que a publicação do anúncio não iria chocar ninguém.

Esta é uma grande função dos anúncios: revelam o momento da sociedade em que são veiculados.

Mas, que a Cândida devia ser uma beleza, atemporal, disso você não tenha dúvida...


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A MÚSICA É CELESTE, DE NATUREZA DIVINA E DE TAL BELEZA QUE ENCANTA A ALMA E A ELEVA ACIMA DA SUA CONDIÇÃO.... Aristóteles




A percepção da beleza da música é a melhor prova viva da existência de um Deus

Nós todos nos vemos como seres racionais, cheios de bom senso. Queremos acreditar somente no que pode ser provado e comprovado.

Coisas mais "sensíveis" decorrentes de sensações inexplicáveis pela via racional são sempre evitadas ou conservadas numa área menos nobre de nossa consciência.

Ficamos todos porém, tocados pela música.

Desde a "grande música" com intérpretes com status de semi deuses até musiquinhas mostradas em vídeos gravados no sertão com gente dançando animada sobre o chão de barro. Para dizer o mínimo.

A música é percebida e nos sensibiliza por outros meios, e instantaneamente nos atinge muito mais profundamente.

Isto está em perfeita sintonia com a obsessão do Almanaque pelos campos.

Um campo magnético criado por um imã - que você não vê, nem explica - é menos misterioso que o campo do encantamento musical, que afeta os nossos sentidos a todo o momento.

Não foi por acaso que Bach dedicou-se tanto à músicas sacra que tornou a sacralidade mais sacra do que qualquer pregação.

Tenho a mais profunda inveja pelos que sabem compor, sabem interpretar, sabem viver da música.

Se existe uma prova simples de que existe Deus basta você se deixar levar pela música que envolva a sua alma, você terá um novo prazer de viver.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Tanta informação e você tem sempre a certeza de que sabe ... cada vez menos!


Lamento, mas é bem possível que nós todos deveríamos considerar esta roupa quando falamos sobre os milhares de fatos que estão longe de nosso entendimento.



Primeiro as coisas lá de fora: O que será melhor para os Estados Unidos, o Barack ou o Mitt?

Em seguida, o que será melhor para o Brasil, que os americanos elejam o Barack ou que eles elejam o Mitt?

E para o mundo? Mitt ou Barack?

Não há como negar as simpatias pelo Barack, mas qual é a sua certeza de que estas simpatias não surgiram devido a um bem sucedido processo de comunicação de marketing?

Numa visão de “marciano” que nunca tenha estado na terra e fosse muito capacitado a entender qualquer coisa analisando apenas os fatos, é quase certo que ele diria que o Romney é muito mais representativo do povo norte-americano do que o Barack.

Mudemos o foco das nossas dúvidas: vai haver eleição num grande condomínio de luxo em sua cidade: Para quem vão as suas simpatias – que não mora lá, não tem amigos no condomínio, não pretende morar na região nem muito menos ser vizinho daquele condomínio?

O Zé ou Juca?

Um deles torce pelo Flamengo o outro pelo Fluminense. Você nunca esteve com nenhum dos dois, e só soube de suas torcidas porque leu uma notinha no jornal do bairro.

Aqui você pode dizer: tanto faz com absoluta confiança e certeza . Tanto faz mesmo.

Vamos mudar o cenário:


Você acompanhou entusiasmado a “primavera árabe” iniciada na Tunísia onde um camelô entrou no couro por uma violência policial que por lá era a regra desde sempre.

A violência contra o cara foi um rastilho de pólvora de desenho animado que saiu explodindo barris pelas margens do Mediterrâneo mudando governos “estáveis” que mandavam em seus respectivos países por dezenas de anos, sem qualquer contestação maior visível pelo resto do mundo.

Estranho, não é?


Todos brasileiros temos alguma relação com os mouros, seja como herança cultural – palavras como álcool, álgebra, revelam parte da nossa herança árabe fruto da ocupação por eles da península ibérica por 800 anos. Isto ocorreu há quase 1000 anos...
Olhe para um português e identifique nele traços mouros, afinal eles estiveram em Portugal por 800 anos. Não é sem razão que em geral nos damos bem com “turcos” – sírios, libaneses, palestinos, turcos , mesmo – que chegaram por aqui nos últimos 100 anos.

Mas, a não ser por estas aproximações históricas poucos brasileiros têm relações mais emocionais com os muçulmanos.

Antes destes anos de mudanças havia uma marcha de Carnaval em que “Alá, meu bom Alá, manda água para Ioiô, manda água pra Iaiá” levantava os foliões sem qualquer temor de condenações pelos líderes religiosos maometanos. Daquela época ...

Quando a “primavera árabe” surgiu já nos chegou simpática pelo bom nome e pela certeza de que finalmente estes caras deveriam fazer alguma coisa contra estes bandidos que mandavam naqueles países pouco se importando com o que acontecia a seus povos.

Muito bonitinho, e irrespondível. Qualquer pessoa bem formada não podia ser a favor dos Kadafis, dos Mubarack, do cara da Tunísia, do Iemen, da Arábias saudita, e de quem mais aparecesse na lista dos árabes malignos.

Mas, como na eleição dos síndicos do condomínio de luxo, usado como exemplo no início deste texto, nem eu, nem você, nem ninguém que não estivesse envolvido nos países sabia como separar simploriamente os mocinhos dos bandidos em cada lugar destes.

Houve algumas dicas: como ganhavam o seu sustento aqueles milhares de homens – poucas ou nenhuma mulher – que geravam imagens de fúria “democrática” todos os dias na praça Tahir do Cairo?
Não seria ali acenando bandeiras e sacudindo os braços que cada um deles ganhava o dinheiro para manter as suas casas. Nem se soube na ocasião exatamente contra quem protestavam: o Mubarack representava as forças armadas. Tinha sido piloto de caça e estava no poder há uns 30 anos...

Quando finalmente foi posto para fora foi substituído pelas... forças armadas.


Seria como se trocássemos aqui um governo cheio de corruptos e mensaleiros representando por uma pessoa, e em seu lugar instalássemos a junta superior de seu mesmo partido.

Um absurdo, não é?


Mas, o que nós temos a ver com isto?

Eles que são “árabes” que se entendam, seria uma boa resposta.

Só tem que você e todos os que torceram pela “primavera árabe” deveriam acrescentar a seu vestuário um nariz vermelho de palhaço.


E o melhor é que ficassem com ele definitivamente na cara.

Sabe porquê?

Por que tudo o que acontece no mundo e nos chega incessantemente pela Internet, tvs, jornais e revistas é uma visão unilateral de alguém. Como dizia o detetive Hercule Poirot da Agatha Christie sempre fica faltando responder a uma pergunta chave : a quem interessa o crime?

Quanto mais distante de nossa realidade, mais difícil julgar sobre os interesses subjacentes a todas estas notícias. Pior ainda é se ver compelido a assumir partidos.

Quer algumas provas?


Quem tem razão nesta questão das ilhas disputadas numa guerrinha – ainda diplomática – entre a China e o Japão?

E quem tem mais razão os russos que prenderam as mocinhas do conjunto “que desrespeita as leis russas” ou o mundo inteiro que quer vê-las livres continuando a fazer o que faziam? Aliás,. Você sabe o que elas faziam?

Há grandes publicações a que você pode recorrer para tentar entender mais profundamente estas questões. Mas fatalmente você vai se tornar um chato irrecorrível.

Pois para entender cada casinho destes você tem de entender o contexto em que ocorrem.

E para quê você precisa saber estas coisas?

Curta a sua vida em vez disto. Não se transforme num idiota que não consegue localizar o Brasil num mapa, nem saber de que lado fica a Ásia ou a Oceania.

Mas, a conclusão dura é que ser um habitante da Terra profissional requer muito mais entendimento do que ocorre por aqui do que é possível saber pelos meios habituais de comunicação.

Há uma publicação chamada “Facts on File” que pode ajudar a você entender o mundo pelo menos umas 100 vezes mais do que qualquer pessoa “comum”.

Hoje, além da informação impressa, há o mundo da atualização on line – paga e bem paga – sobre todos os assuntos.

Para você ter uma ideia, cada informação nova tem a referência sobre a informação anterior sobre o mesmo assunto.

Qualquer notícia pela própria necessidade da informação abrangente cita a informação anterior e dá acesso a ela.

Os serviços de espionagem do mundo inteiro seriam bem mais confiáveis se todos assinassem o “Facts on File” e agissem em função disto...

Há outros serviços destes, mas o citado aqui serve apenas para comprovar como o volume crescente de informações apenas nos ajuda a saber menos sobre o que de fato está ocorrendo.

Pena que não haja um “Facts on File” para o Brasil, para a sua cidade, para o seu bairro. Mesmo por que isto seria impossível.

O que não é impossível é você jamais abdicar de seu interesse em buscar a verdade por trás das notícias.

E de imediato botar para escanteio as pessoas, autoridades, políticos e jornalistas que tentem enganar você, tornando o nariz vermelho palhaço parte de sua apresentação no dia-a-dia , mesmo que as outras pessoas nem sempre percebam o nariz em sua cara.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Horas ganhas e horas perdidas. Dias ganhos e dias perdidos... Carpe Diem enquanto pensa nestas coisas, é a dica deste Almanaque







Zanine dizia a seus alunos que quem conseguisse fazer uma boa e bela cadeira com as suas próprias mãos seria capaz de fazer casas.

Há pelo menos uns 20 anos “descobri” uma novidade que naturalmente não devia ser novidade para quem já atuava na área.

Uma bobagem aparente que chamou a minha atenção em todos os trabalhos e atividades que tive dali em diante.


Aqui está o taxímetro capelinha que registrava tudo: bandeiradas, quilômetros em que o táxi faturava e os quilômetros em que rodava vazio. Tremenda lição para prestadores de serviços...


Havia um ponto de táxi diante do Centro Empresarial em Botafogo e nele havia um único táxi que tinha um taxímetro analógico, da marca Capelinha, que exibia além do custo da corrida, uma série de outras informações numéricas, em números menores na parte de baixo do painel.

Eu perguntei ao taxista quê números eram aqueles.

Era um dos poucos taxímetros “dedo-duro” fabricados pela Capelinha antes da invasão dos taxímetros digitais. Nele apareciam os quilômetros rodados com o taxímetro ligado (com passageiro), os quilômetros rodados sem passageiro, quantas “bandeiradas” haviam sido dadas, e desconfio que outra contagem dos quilômetros com bandeira dois.

Um táxi operado por um empregado tinha ali no taxímetro o olho do dono o tempo todo em cima do motorista. Não havia como esconder os ganhos, nem a fonte dos ganhos.

Este taxímetro , já no limiar do desaparecimento dos taxímetros analógicos, não teve muito sucesso, pois não lembro de ter visto outros em atividade. E porque a razão de sua existência passou a ser eliminada pela simples cobrança da diária por parte dos donos de táxi aos motoristas.

Não precisava saber quantos quilômetros o carro havia rodado com o taxímetro ligado ou não.

O dono exigia limpos 100 reais ( ou equivalente ) por dia e toda a contabilidade ficava a cargo do motorista.

Mas, aquele taxímetro demonstrou para mim com dados fáticos o problema de como buscar a remuneração quando se prestava serviços: quanto se tinha de rodar com taxímetro desligado para obter os quilômetros rentáveis com o taxímetro ligado.

Com táxi, regularmente , a quilometragem rodada com passageiros era equivalente à quilometragem rodada sem passageiros.

Metade do tempo do tempo do táxi rodando nas ruas era sem faturamento.

Logo o faturamento com taxímetro ligado tinha de pagar os quilômetros rodados sem faturamento, garantir um lucro que permitisse não só a manutenção como a troca do carro depois de alguns anos. E o lucro de todos os envolvidos.

É curioso como algumas simplificações conseguem condensar em uma atividade apenas a chave de grandes mistérios em várias atividades.

Um amigo me disse um dia que o Zanine, autor de belas casas no Rio de Janeiro construídas com material de demolições – que não era arquiteto – deu aulas na Universidade de Brasília, na faculdade de arquitetura. Tenho a impressão que ele ensinava como fazer maquetes.

Mas, ele também pedia aos alunos que construíssem uma cadeira de madeira. Sem dar muitas indicações. A cadeira poderia ter qualquer formato. O que ele pedia era uma cadeira.

A cadeira tinha ser sólida, firme, não ficar bamba quando alguém se sentasse nelas. Tinha também de ser bonita, funcional e que pudesse ser copiada .

Quando o aluno apresentava o seu trabalho Zanine dava a nota e informava a eles que quem conseguia fazer uma cadeira com estes predicados seria capaz de construir uma casa, qualquer casa.


O Zanine, antes de ser reconhecido como arquiteto por sua obra construiu belas residências por que sabia construir cadeiras com perfeição. São Conrado e a Joatinga têm algumas destas casas em suas ruas.

Como ouvi esta história há muitos anos (posso estar exagerando agora, mas juntando a duas histórias – a da arquitetura e a do táxi) - acho que posso garantir que quem consiga administrar um táxi com as suas quilometragens e seus passageiros conseguirá também administrar uma empresa de serviços,

Convido você para visitarmos a nossa área do marketing.

Quando o profissional de marketing está com o taxímetro ligado e quando tem de rodar sem um passageiro pagando a corrida?

É claro que todo o fornecedor de serviços terá de rodar muito tempo, muitos quilômetros sem faturar um tostão sequer.

Mas também posso garantir que o tempo sem passageiros é essencial para obter passageiros para poder ligar o taxímetro. E ganhar dinheiro.


Do mesmo modo que o táxi sem passageiros deve rodar em regiões onde há maior potencial de atraí-los o profissional de marketing deve preferir rodar vazio em áreas onde haja mais possíveis clientes.

Congressos, seminários, cursos são óbvios. mas, outros ambientes diferentes podem ser tão propícios a achar “passageiros” quanto os mais óbvios.

Um mapa infalível para identificar áreas em que passageiros podem estar necessitados de “táxis” no mundo do marketing exigirá um bom feeling do profissional de marketing. Que poderia ser chamado de vocação.

Tenho uma regra cuja a precisão a cada dia me parece mais confiável.

Não há planejamento de marketing que tenha sido feito visando atender a necessidades diferentes das que vou citar a seguir.

As 9 necessidades humanas

 Ganhar Dinheiro
 Aprimorar-se
 Pertencer a um Grupo
 Economizar Dinheiro
 Economizar Tempo e Trabalho
 Ajudar a Família
 Sentir-se Seguro
 Impressionar os outros
 Ter prazer


A maior virtude objetiva de um profissional que se dedique à prestação de serviços deverá ser desenvolvida com a finalidade de manter o seu taxímetro mais tempo ligado.

Como será o “taxímetro” dele em relação aos quilômetros cobrados e os quilômetros com a bandeira do livre indicando o não recebimento de dinheiro?

É algo bem mais difícil de definir.

O tempo diante de um livro, as horas na Internet, a conversa com os amigos, o tempo relaxado para saborear refeições, beber vinhos, dar boas risadas, apreciar as coisas boas da vida tudo isto se faz com o taxímetro desligado.

E se você quiser imaginar uma espiada no inferno, pode ter a certeza de que ali só vai encontrar “hóspedes” de Satanás condenados pela eternidade a viver com o taxímetro sempre ligado.

Todo o prazer, ou pelo menos a maior parte dele não existe mais e esta seria a condenação mais terrível para qualquer ser humano.

Nós fomos agraciados com um cérebro bem superior ao uso que dele fazemos para sobreviver, e temos cada um nas suas respectivas cacholas algo muito mais poderoso do que qualquer supercomputador feito por alguém.

O nosso supercomputador não tem tecla para desligar.


Quando estamos acordados ele fica captando dados aleatórios, como a visão fugidia de uns pinheiros plantados diante de uma casa de subúrbio e imediatamente relacioná-los com outros pinheiros cuja memória estava guardada, sem nunca ter sido exigida, desde os tempos do colégio primário, onde havia pinheiros iguais a aqueles na frente do colégio em Copacabana.

O tempo para isto tudo acontecer foi menor do que digitar agora a palavra agora.

Esta massa tão poderosa não foi aprimorada geração após geração para nos dar tristezas, foi para nos possibilitar a vida com prazer.

Está comprovado que as pessoas que levam vidas mais prazerosas vivem mais.
.
Como a vida longa é desejada por todos, e a pior pena para os homens é a condenação à morte, fica aqui comprovado que a busca incessante do prazer é o grande desafio a ser constantemente buscado na vida.

Mas, se já vimos que o prazer sempre será buscado com o taxímetro desligado temos um problema a resolver: como definir as horas dedicadas ao taxímetro ligado e como definir que a hora não é para brincadeiras?

O nosso planeta desde que existimos gira em torno de seu eixo e nos faz sentir a sucessão de dias e noites.

A lua, também gira e torno do planeta e a cada 28 dias mostra a sua fase de lua cheia, demonstrando que há outras maneiras de medir o tempo. As mulheres em idade fértil seguem as fases da lua para revelarem-se abertas à fecundação de seus óvulos , o único ponto de partida para toda a evolução da nossa espécie durante alguns milhões de anos.

Estes ciclos naturais, dias e noites, fases da lua, e mais as estações do ano sucedendo-se a cada 12 meses inventaram a medição do tempo a que todos os povos aderiram. E aderiram não para imaginar as horas em que estariam com os seus taxímetros ligados, mas para limitarem as horas de prazer sem compromissos maiores.
Todos os povos que criaram alguma coisa que se possa chamar de civilização definiram que de tempos em tempos haveria um dia sem trabalhos, pelos mais diversos motivos.
Sempre que faço generalizações sobre a humanidade, brasileiro que sou, penso nos nossos índios. Tenho a quase certeza de que os ianomâmis, por exemplo, que há pelo menos uns 10 mil anos vivem “isolados” da civilização, não têm dias de descanso no que poderia ser a sua semana.




Aqui estão os ianomanis, que vivem no norte do Amazonas exatamente assim há mais de 10 mil anos e são muito felizes.


O mecanismo do tempo deles, preciso e comprovado como o nascer do sol, é a lua.
O dia do índio requer trabalhos os mais diversos entremeados com o que poderíamos classificar como diversões.

Tenho lembrança de descrições de amigos que os visitaram e dormiram em suas ocas que testemunharam que quando quando alguém tem um sonho marcante, acorda todo mundo e não espera a manhã para contar o seu sonho:avisa que vai contar o seu sonho e todos (os que acordam, naturalmente) prestam atenção ao que o sonhador conta.

Sonhos têm para eles significados muito importantes, coisa que descobriram bem antes de Freud se dedicar a estas coisas. Por isto ouvir os sonhos e interpretá-los recebe mais atenção por parte da tribo do que uma previsão do tempo de alta qualidade tecnológica numa emissora de televisão.

Eles consideram o sonho como base para interpretar o que irá acontecer no futuro.

O “taxímetro” dos índios destas tribos isoladas está sempre ligado, num módulo diferente do nosso.



Aqui estão borboletas amarelas em seu bravo esforço para preservar a sua espécie.


Me vi numa situação parecida com a dos índios, quer querem ouvir e interpretar sonhos quando sozinho do no alto de um morro, em dia de vento forte, prestei atenção a uma borboletinha amarela, sem muita graça, que veio do norte batendo suas asas com um esforço imenso e enfrentava um sudoeste capaz de virar veleiros pequenos numa baía.
Borboletas não assistem previsões meteorológicas.

Borboletas sabem das condições meteorológicas pois vivem e são parte do tempo.

Borboletas até prova cabal em contrário não ficam paradas, junto a outras borboletas fazendo comentários sobre o tempo.

Borboletas também não riem, não têm horas de lazer, não têm horas de trabalho. Ou melhor borboletas e todas as espécies vivas não humanas – vegetais, animais, bactérias, vírus – só têm uma atividade na vida: preservar a sua espécie.

A preservação de nossa espécie também é uma tarefa diária de todos os seres humanos, mas há muitos milhares de anos deixou de ser a nossa única tarefa.

Vamos de volta à borboletinha amarela. No meu pensamento humano tive de especular: quê esforço maluco deste inseto idiota para voar contra este vento terrível para não fazer nada!

E foi com esta especulação que cheguei ao máximo respeito pela borboletinha no contravento.

Ela está em plena tarefa de preservar a sua espécie, coisa que vem dando certo há alguns milhões de anos e só tem dado certo para borboletinhas amarelas porque bilhões de borboletinhas amarelas têm voado no contravento sem um comando institucional para fazer aquele esforço todo.

Milhões delas morreram durante este esforço que me pareceu inútil.

Mas, ao pensar nisto constatei que a borboletinha era infinitamente mais séria do que eu que estava ali apenas fazendo especulações sobre o seu esforço “inútil”.

Movida por algum campo de força a borboletinha fazia o que ela devia fazer.


Como as aves migratórias que se mandam todos os anos do ártico para os nossos mares orientadas por bússolas internas já percebidas por cientistas que desmontaram os seus cérebros em busca do segredo de seus voos de mais de 10 mil quilômetros sem mapas e até sem visibilidade do solo.

E os salmões e enguias que nascem nas cabeceiras de rios, descem até o mar salgado, e voltam para os seus rios de nascença anos após a partida para porem seus ovos enfrentando corredeiras, pescadores, ursos apreciadores de sua carne?

Nenhum deste bichos ao que se saiba dedica qualquer instante de suas vidas ao que poderíamos chamar de lazer. Não riem, não perdem tempo em bate papos (nem em leituras). Nascem, crescem, se reproduzem e morrem sem que nenhum contemporâneo animal cogite de registar a sua vida. É tudo a mesma coisa.

Na nossa espécie é que ganhamos (graças sejam dadas a Deus) tempo para fazer especulações sobre a vida e o que podemos fazer enquanto não cuidamos da pura preservação de nossa espécie.

Só vale a pena especular sobre estes fatos para que nos seja uma boa indicação para aproveitar melhor os nossos dias.

Em latim fica melhor: Carpe Diem!


O autor foi um poeta romano, Horácio, e a dica aparece no seguinte texto:

Tu não indagues (é ímpio saber) qual o fim que a mim e a ti os deuses
tenham dado, Leuconoé, nem recorras aos números babilônicos. Tão
melhor é suportar o que será! Quer Júpiter te haja concedido muitos
invernos, quer seja o último o que agora debilita o mar Tirreno nas
rochas contrapostas, que sejas sábia, coes os vinhos e, no espaço
breve, cortes a longa esperança. Enquanto estamos falando, terá
fugido o tempo invejoso; colhe o dia (carpe diem) , quanto menos confiada no de
amanhã.


Na tradução no verbete Carpe Diem na wikipedia.

O conselho de Horácio continua ainda mais válido hoje do que em Roma.

Vamos para mais perto de nossos dias.

Shakespeare, que por incrível que pareça era desprezado solenemente por Voltaire, que o considerava apelativo e ignorante, disse outra coisa no Hamlet:

“Life's but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more: it is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.”


Tal como as borboletinhas amarelas que somem no seu esforço de voar contra ventos fortes Shakespeare acha que a vida não passa de uma sombra passageira, um ator medíocre que se esforça no palco. E de repente deixa de ser ouvido e não passa de uma lenda cheia de som e fúria, contada por um idiota. Sem qualquer significado.
O que fazer diante de tantos desafios?

Até onde devemos rodar com o taxímetro desligado? Até onde tentar fabricar a cadeira pedida pelo Zanine? Quanto tempo devemos dedicar à nossa busca por passageiros? E quanto tempo para observar o que acontece na Terra a que pertencemos?

O conselho de Horácio é até agora o mais sábio.

Para não nos empolgarmos com a Visão soturna de Shakespeare e acharmos que nada do que façamos vai valer a pena.

Aliás, para desfazer a grande aura do Shakespeare, nada melhor do que desligar o seu taxímetro e dedicar algumas horas ao Dicionário Filosófico de Voltaire.

Garanto que você vai se sentir melhor quando fizer isto.

Carpe Diem!