quarta-feira, 13 de junho de 2012

A vontade de acreditar e de buscar a verdade mesmo que isto lhe custe a mão.



Ser cético é olhar para tudo e para todos com um grau variável de desconfiança.

Os céticos sempre são vistos como gente séria e confiável, o que lhes incentiva a serem cada vez mais céticos...

Diante da incapacidade humana de dizer a verdade, não apenas movidos por um comportamento malévolo, mas pela barreira do esquecimento, podemos ter a certeza de que vamos ouvir ler e lidar com a mentira todo o tempo.

A mentira pressupõe que o mentiroso saiba a verdade, mas intencionalmente a oculta, ou a disfarça quando se dirige aos outros.

Quando, na hipótese abordada no segundo parágrafo alguém não fala a verdade e mente por não lembrar-se muito bem do que ocorreu trata-se de um erro.

Um pecado menor do que a mentira pura e simples.

Os efeitos da mentira e do erro são iguais e avassaladores para os amantes da verdade, e são a maior justificativa para a reação dos céticos diante de qualquer informação.

Uma verdade indiscutível é que todos têm de levar em conta é que as informações não podem ser aceitas como verdades.

Há momentos que precisamos saber até onde são verdadeiras as informações para agirmos com todo o nosso empenho, mas a maioria das vezes a busca da verdade por trás de tudo o que lemos ou ouvimos é apenas um belo exercício para satisfazer a nossa própria vaidade:

Não me deixo enganar...

Em Roma há uns 2000 anos há no Átrio da Igreja de Sta Maria Cosmedin, um baixo relevo que ganhou o nome de boca della veritá . Um deus, possivelmente Oceanus, ficava com a boca aberta, de onde jorrava água quando foi instalada, e que depois sem água para jorrar passou a ser usada pelos gozadores romanos como forma de obter a verdade de suas namoradas e namorados.

A pessoa não precisava jurar que estava dizendo a verdade. Bastava dizer alguma coisa e enfiar a mão na boca de Oceanus.

Se fosse mentira Oceanus fechava a boca e cortava fora a mão do mentiroso.

A obtenção da verdade era um processo em que a psicologia – ainda não tornada uma ciência – tinha de ser usada com grande habilidade pelo inquiridor.

O temor de ter a mão comida pela boca de pedra tinha de ser tão assustador que o mentiroso ou a mentirosa acabavam dizendo a verdade para o perguntador esperto.

Não há registro na história de Roma de alguém que tenha tido a mão comida pela boca della veritá. E até hoje e em Roma, como em todos os lugares do mundo , as mentiras comeram soltas durante todos estes milênios.

A boca tornou-se uma atração turística em Roma, que mesmo sendo de pedra está desgastada pela inserção de milhares de mãos todos os dias por todos os séculos.

Se a boca funcionasse mesmo e pudesse ser reproduzida (possivelmente na China) e vendida por toda a Terra, iria fazer um estrago globalizado...

E o estrago não seria como pode parecer a infinidade de manetas andando pelas ruas da Terra, seria na verdade a multidão de milhões, bilhões de infelizes que para não perderem as mãos estariam condenados a dizer sempre a verdade.


O caos seria instalado.

Não haveria governos, políticos, empresas, famílias, religiões, nem dinheiro, nem coisa alguma em que a incerteza transformada em certeza para uns permitisse a estes uma liderança totalitária sobre todos os demais.

A Terra, por medo da mentira, seria alguma coisa mais próxima e ainda mais terrível do que o Inferno de Dante.

Justamente o lugar em que ele disse que haveria um círculo dedicado a punir pela eternidade os mentirosos pecadores.

O Almanaque recomenda que você cuide apenas( e com muita parcimônia) a descobrir apenas as verdades essenciais à sua vida.

Não caia na tentação de ser um verdadeirófilo empedernido.

Pois se fizer isto é garantido que a sua vida será muito pior do que o inferno.

Pelo menos do que aquele inferno descrito por Dante com tanto sucesso...

Um comentário:

Pio Borges disse...

A verdade é a coisa mais rara na comunicação.
Como a certeza é a coisa mais fugidia em qualquer planejamento.
Tudo que dependa de verdades para ser aplicado na prática incentiva a tomada de decisão instintiva, que às vezes dá certo e às vezes dá muito errado.
Veja o caso desta CPMI!