quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sem mapas você não pode chegar a qualquer lugar. E se chegar nem vaI SABER que chegou. Napoleão tinha autoridade para transformar este conceito numa verdade indiscutível.





Ainda há, mas já houve mais, uma tentação de associar a inteligência de marketing à inteligência de grandes generais ao longo da História.

O marketing tem pouco menos de 100 anos enquanto os generais perdem e ganham batalhas há séculos. Os estrategistas ganham por antiguidade.

Em qualquer livraria as edições sucessivas da “Arte da Guerra” de Sun Tzu , um general e filósofo chinês que teria vivido de 544 A.C a 456 AC comprovam a verdade de suas afirmações sobre as relações humanas no momento exacerbado de uma guerra.

Não só naqueles tempos como em todos os tempos posteriores aos seus 88 anos de vida.

As guerras mais empedernidas dos dias de hoje, lutadas todos os dias, são as guerras do marketing.

E até as guerras com combates entre soldados são também guerras do marketing , o que poderia comprovar se me fosse exigido... Cito até o Clausewitz que garante serem as guerras uma extensão da política.


Quando nos perguntamos o porquê desta admiração por textos militares do passado proponho três razões maiores:

1. O peso da credibilidade instantânea e grátis obtida pelo profissional que junta à sua argumentação o aval de um nome reconhecido como estrategista vitorioso.

Este gesto identifica o profissional de marketing como uma pessoa muito bem “assessorada” confiante no estrategista citado para “comprovar” alguma proposta diferente.

Que ele adoraria ver transformada num dogma – que dispensa comprovações – mas é capaz de explicar por adesão as propostas feitas por ele em seu plano.

2. O apelo quase irresistível à vaidade humana dos seus interlocutores, é o segundo grande motivo de fazer citações de estrategistas.

Ao citar um estrategista histórico pouco lido por gente de hoje - que em teoria deveria conhecer as suas lições assim como os colegiais tinham de saber a tabuada – poucos serão capazes de se opor ao estrategista citado. Citando outros conceitos dele mesmos conflitantes com o usado pelo profissional de marketing.

Afinal ninguém é estrategista,poucos estiveram em combates reais e um bom número destas pessoas cheias de observações sobre novas propostas acha mais fácil referir-se a ensinamentos esportivos - e se perdem em metáforas sobre o futebol “que qualquer um entende”. Ao preferir fazer metáforas sobre futebol correm o risco de serem considerados imbecis l que só parecem entender sobre futebol embora jamais tenham sido técnicos de clube algum.

3. Para “ganhar” uma briga sem precisar brigar. Coisa que meninos mais fracos faziam ao desafiar os rivais maiores levando como acompanhante o irmão mais velho e mais forte que não iria deixá-lo apanhar caso a argumentação com o rival não garantisse a vitória contra ele.

Por estas três razões e mais umas dez não relacionadas aqui é que gente como o Sun Tzu, César, Maquiavel, Clausevitz, Bismark ao serem citados num planejamento ajudam quem os cita a ganhar a argumentação.

Nesta lista vejo Napoleão muito esquecido e injustamente ignorado.

Napoleão viveu no século 19, foi o mais bem sucedido de todos os generais da história, mudando inclusive a nossa história no Brasil. Tornou a França na grande referência intelectual dos brasileiros até pelo menos o século 20.

Napoleão perdeu parte de seu brilho quando seus compatriotas foram salvos de uma derrota acachapante na Segunda Guerra Mundial diante dos alemães pelos anglo-saxões seus rivais históricos.

Napoleão (isto é apenas uma comparação) acabou morrendo ou sendo assassinado por seus inimigos em Santa Helena, a ilha em que ficou preso depois de ter perdido a guerra e seu trono para os ingleses em Waterloo.

Quem também passou por uma queda de prestígio semelhante em vida foi Jesus Cristo que mesmo sendo filho de Deus foi crucificado e morto da maneira mais humilhante que havia na sua terra. Lado a lado com dois ladrões de galinhas, já que não havia muito mais a roubar naquela região pobre do império romano.

Assim como a cruz - que explicitava a morte, a condenação e o descrédito de Jesus- tornou-se o símbolo, o sinal, de sua vitória, as estátuas, estatuetas, pinturas, livros sobre Napoleão criaram a sua própria religião que incluía até as vestimentas de mulheres e homens na França.

Napoleão como imperador “civilizou” Paris, construindo seus bulevares, suas praças, trouxe o grande obelisco do Egito e o postou em praça pública onde mais de 40 milhões de visitantes estrangeiros o visitam todos os anos na cidade de maior movimento turístico do mundo, quase o dobro da segunda que é Londres.

No Rio de Janeiro toda a beleza dos prédios e avenidas do início do século 20 é descendente da Paris reinventada pelo corso baixinho que ganhou todas as suas batalhas na Europa.

As militares, diplomáticas e políticas.

Menos duas. Aquela contra o “general inverno” na Rússia onde o seu exército congelou, morreu de fome e, os que conseguiram sobreviver, chegaram em frangalhos.

A outra derrota consequente à derrota diante da Rússia foi em Waterloo.

Mas enquanto ganhou as guerras em que se meteu este pequeno corso mudou a política governamental na Europa, tornou a França um exemplo administrativo para o mundo e em especial para o novo mundo.

Instituiu um quarto poder junto ao Legislativo, Judiciário e Executivo. Criou o poder Moderador – exercido por ele – para justamente moderar os conflitos entre os três dando um tranco legal nos integrantes destes poderes que demonstrassem que seus desentendimentos poderiam (na ótica de Napoleão ) prejudicar a nação.

Já imaginou o que não iria acontecer com o Lula, O Gilmar e o Jobim se existisse um poder moderador no Brasil?

E não é que existiu? O poder moderador existiu aqui, na base do recorta e cola de d.Pedro I que achava o Napoleão e os franceses (e francesas) tudo o que havia de bom no mundo, copiável sem receios, pois seria o que de mais certo se poderia fazer.

Duas laudas até chegar à questão dos mapas do título...

Mas, espero justificar este meu anti-lead, este nariz de cera, para trazer o assunto do post ao palco.
Com o que vem a seguir.

Napoleão era obcecado por mapas das regiões em que iria travar batalhas.

Sem mapas precisos – nada de mapas apenas bonitos ou artísticos – Napoleão não entrava em combate.

Para obter os mapas usava os seus geógrafos e cartógrafos, apelava a espiões, cercava agentes de correios, políticos da região e sabia exatamente onde estaria pisando.

Ele conhecia o poder de fogo de seus soldados e sabia como usar este poder nos campos de batalha .

Em guerras de marketing é desta mesma forma que são obtidas as grandes vitórias.



Jeff Bezos, o criador da Amazon, provou ser um brilhante estrategista ao imaginar como analista de investimentos da bolsa de Nova York qual seria a a areaa do marketing que iria mais se beneficiar das novas armas da internet.

Chegou ao marketing direto de livros, que jamais poderiam estar expostos todos de uma vez nas estantes e balcões das livrarias – por maiores que elas possam ser.

Estudou o assunto – fez os seus mapas precisos do território em que iria lutar – e transformou em pouco mais de 8 anos a Amazon na maior livraria on line do mundo.

Mas, maior livraria é ainda pouco.

Bezos criou um sistema de vendas em que os produtos são de fato oferecidos como um desejado serviço de informação pelos clientes cada vez mais fiéis à Amazon.

Nenhum general ou estrategista do passado conquistou mais de 200 milhões de súditos coisa que o Bezos tem hoje.

O fato não muito comentado diante deste sucesso na guerra do marketing é que Bezos seguiu as lições do Napoleão, mesmo que nunca tenha lido sobre a obsessão dele pelos mapas precisos.

Portanto o Almanaque recomenda que todo profissional de marketing se inspire com o Bezos tendo como programa operacional a sabedoria do Napoleão.

Procure obsessivamente saber onde vai travar as suas lutas.

Se não ganhar todos os combates com certeza vai errar menos do que seus concorrentes e isto já será uma grande vitória.


Um comentário:

Pio Borges disse...

Napoleão parece que leu a primeira tradução do Sun Tzu feita por um jesuíta francês.
E parece que inspirou-se nele.