segunda-feira, 18 de junho de 2012

Saber saber, saber fazer, fazer saber, fazer fazer. É só isto ou isto já é demais??? (1)

Ainda não tinha 30 anos quando ouvi esta série de conselhos de um professor no IAG da PUC.

Já que estava ali buscando mais saber esta frase ficou profundamente plantada na minha cabeça. A tenho repetido muitas vezes me sentindo muito sábio e um bom conselheiro todas as vezes que o faço.

Mas hoje por algum mistério que só o nosso cérebro pode explicar a frase me veio à cabeça de repente e me fez pensar com mais afinco sobre o que ela aconselha.

Será que isto é verdade?

Fui ao Google e à Wikipedia e descobri que este jogo de palavras, com os verbos saber e fazer constituem os 4 pilares da educação.

Pronto. O jogo de palavras deixou de ser um simples jogo de palavras que eu apreciava e se tornou de repente numa regra pétrea de educação:

se você passou por um processo educacional e não fez o caminho dos quatro passos está forçosamente mal posicionado.

Mal equilibrado, mal preparado, e, portanto não pode queixar-se se falhar no que está fazendo... Sua formação foi incorreta...



Quando ouvi a frase nos anos 60 do século passado a aceitei sem muitas sutilezas. Sem analisar muito o que era dito aquilo parecia ser uma verdade inconstestável.

Saber saber era você mesmo buscar o tipo de saber necessário à sua sobrevivência.

Evitar a perda de tempo com bobagens, ou dedicar muito esforço para aprender o que não fosse importante.E o seu tempo é de fato a sua única riqueza que não deve ser desperdiçada.

Saber fazer era transformar o saber adquirido em ações precisas, seguras dando a você e a quem contasse com você a certeza de estar fazendo a coisa certa da melhor maneira possível.

O fazer saber já era mais sutil.

Era tornar a sua capacidade do saber fazer em informação bem apresentada para uma porção de pessoas, que vieram a ser classificadas como stakeholders nos anos que se seguiram. As pessoas que poderiam fazer diferença em sua carreira precisavam saber o que você estava fazendo.

E o fazer fazer era assumir o papel de chefia, de comando, de inspiração e de realização individual recebendo o reconhecimento de todos os envolvidos.

Um processo fácil de entender, com etapas sucessivas para levar a pessoa do anonimato para o Olimpo dos deuses.




O que estava implícito na frase que guardei era um caminho simples para o saber aplicado. Um caminho pavimentado e bem sinalizado para chegar ao paraíso, onde quer que ele estivesse, na terra ou em algum céu.

Quatro passos em vez de 10 leis ou mandamentos, ou sete regras, ou qualquer outra relação de coisas a fazer. Apenas quatro dicas fáceis de lembrar sem espaço para dúvidas ou hesitações.

Cada um tinha sua chave para ir adiante para o pilar seguinte da educação.

A questão do saber saber de saída quando você se empenha em analisar o que está dizendo tornou-se cada vez mais complexa e já era mais do que complexa quando ouvi o conselho.

Convido você a mergulhar comigo nas considerações a seguir:



 A maior parte dos conhecimentos formais (básicos) que levávamos a uma universidade já estavam integrados ao “sistema operacional “ de todos os estudantes.

o As matérias aprendidas são as mesmas para todo mundo. O que poderia haver de diferente eram professores que conseguiam “vender” suas disciplinas com mais entusiasmo do que outros professores – da mesma matéria – e tornavam as suas aulas mais prazerosas.

 Há também a vocação individual (genética familiar) que explica porque há tantos artistas em famílias de artistas e tantos professores em famílias de professores.

 A palavra vestibular era perfeita para definir este primeiro passo do estudante rumo ao saber saber. Era como entrar num vestíbulo (lobby) de conhecimento que não iria representar com precisão todo o resto que seria vivido nas outras dependências deste edifício.

 Na Idade Média de tão mal faladas as universidades tinham as suas aulas em latim, que foi mesmo a segunda língua universal depois do grego. Os poucos alunos que chegavam a elas iam para lá para especializarem-se nas 7 artes do homem.





 As 7 matérias eram integradas no Trivium e no Quadrivium. Uma sábia apresentação de ferramentas para dotar o estudante do embasamento tecnológico e cultural para formar cidadãos mais capazes.

 Citando textualmente a wikepedia : O Trivium (do latim tres: três e vía: caminho) era o nome dado na Idade Média ao conjunto de três matérias ensinadas nas universidades no início do percurso educativo: gramática, lógica e retórica.

O trivium representa três das sete artes liberais, as restantes quatro formam o quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música.


 O contraste entre os estudos elementares do trivium face aos mais avançados no quadrivium originou a palavra "trivial", adjetivo para caracterizar algo que é básico, simples ou banal.

 Diante das reduzidas conquistas intelectuais no período da Idade Média esta questão do trivium e do quadrivium ficou meio esquecida durante séculos. E não gerou movimentos para recuperar o que os estudantes aprendiam e especular se não haveria ali alguma indicação importante.

 Mas, vamos lá: o início do saber saber era baseado em três matérias que exigiam muito pensamento, muita interação entre alunos e professores.

Gramática era a única forma de tornar as palavras reunidas por alguém, em relação a qualquer tema, capazes de transmitir verdades.

 Era algo como uma bicicleta que para ser usada exigia que a pessoa em primeiro lugar fosse capaz de equilibrar-se nela.

 A gramática como ciência é bem antiga e não se aplica apenas a uma língua. Todas as línguas humanas, das mais simples às mais complexas têm as suas gramáticas.

 Um texto que não respeite as regras gramaticais de uma língua será sempre um texto impreciso, com a compreensão prejudicada quando não venha a ser totalmente desvirtuado. Uma língua será tanto mais precisa quanto seja precisa a sua Gramática.

 Aprender Gramática numa universidade da Idade Média visava - tal como o latim usado como a língua franca - estabelecer um denominador comum , que assegurasse que tudo o mais a ser aprendido obedeceria a um programa operacional único e inquestionável.

 Não havia no estudo da Gramática nenhuma consideração para o que seria transmitido com o suporte da Gramática.

 Daí a segunda matéria do Trivium: a Lógica.

 Da mesma forma como a Gramática não se prende a uma língua e não às outras a Lógica tomava em consideração as considerações quanto ao uso das palavras ou dos números. Desde cedo tornou-se claro que mesmo ao usar as palavras, com todo o rigor da gramática não seria possível assegurar que todo o texto gramaticalmente correto seria verdadeiro.

 A maneira de pensar sobre um problema determinava como uma solução – ou várias soluções – podiam ser dadas a ele.

 E sempre na ânsia de ganhar um debate uma disputa poderia ganhar mais discussões quem se utilizasse de uma lógica que apelasse mais para a emoção do que apenas para a exposição dos fatos realmente capitais do que estava sendo discutido.

 É de admirar-se que em plena idade média as universidades tenham dedicado os seus melhores professores para exercitar os alunos em processos tão sofisticados e aparentemente então
sem uso prático.

 A nossa visão da Idade Média é o de um momento na história da humanidade em que nada de importante era debatido. Questões mais agudas entre pessoas, grupos ou nações geravam embates , conflitos e guerras, onde a lógica maior era a da força militar.

 O estudo da lógica nas universidades da Idade Média corresponderia ao estudo da roda antes de sua utilização em carros que ainda não teriam sido inventados.

 Vamos voltar à lógica, mas antes vamos chegar à terceira disciplina do Trivium: a retórica.



 Palavras não são apenas sons e o alinhamento de frases corretas – a única razão para o uso das palavras é convencer outras pessoas de sua adequação.

 Aristóteles que liderava a filosofia grega tinha um tratado sobre retórica pois melhor do que qualquer outra pessoa sabia que sem o uso da retórica suas ideias de nada serviriam pois não seriam suficientes para empolgar ninguém.

 O caminho para obter a adesão às ideias transmitidas por palavras tinha caminhos críticos que uma vez seguidos contribuíam em muito para o entendimento do que estava sendo dito.

Uma pausa agora neste extenso – para os fins deste post – sobre o Trivium.


Os profissionais e estudantes de comunicação jornalística ou de marketing se leram o que foi dito aqui sobre o Trivium hão de concordar que seria um paraíso um mundo em que eles, e seus colegas, tivessem passado pelo caminho do Trivium e exercer a suas profissões dominando a Gramática, a Lógica e a Retórica.

TODOS OS LIVROS sobre comunicação poderiam ter sido escritos na Idade Média pois estariam TODOS baseados no Trivium adaptado aos dois últimos séculos – o 20 e o 21 .

O saber saber para os que têm vocação para a comunicação logicamente não poderiam jamais desconhecer a força do Trivium.

Aguarde a evolução deste papo sobre o saber saber, saber fazer, fazer saber e fazer fazer. E ainda como entra neste processo o aprendizado do Quadrivium




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