segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sambaquis submersos, sambalá há mais de 8000 anos e o aquecimento global ocorreu sem que se pudesse apontar um único culpado... E tudo continuará assim.






Sambaquis são amontoados de conchas e demais detritos de tribos que habitavam as costas do Brasil de 10 000 a uns 8 000 anos antes de nosso tempo.

Estes povos não mantiveram qualquer relação com os índios que dominavam as costas do Brasil quando os portugueses chegaram por volta dos 1500.

As muitas tribos mais pacíficas como as que receberam Cabral e Pero Vaz Caminha na Bahia ou mais guerreiras como os tupiniquins que pretendiam comer Hans Staden na Baía da Ilha Grande já eram descendentes das etnias que haviam liquidado os povos dos sambaquis, há pelo menos uns 2 000 anos.

A sustentabilidade foi o tema do Rio + 20 e um dos pontos chave discutidos em vários foros foi a ameaça a todos os povos pelo efeito estufa.



O efeito estufa é o aquecimento da temperatura média da Terra provocando um derretimento do gelo do Ártico e da Antártida levando o nível dos oceanos subir de pouco a pouco nos próximos 100 anos invadindo as cidades marítimas de todo o mundo, inclusive a nossa São Sebastião do Rio de Janeiro que ficaria com um mar pelo menos 2 metros acima do nível atual.


Troço muito chato mesmo, pois toda a beleza de nosso litoral – para citar apenas o nosso – iria perder muito de sua graça com ondas quebrando nas ruas, entre os Edifícios que fatalmente teriam de ir abaixo.

Aqui e em todas as cidades litorâneas do mundo.





Até 11 000 anos havia na terra um era glacial em que os gelos do polo norte quase iam até a Florida n os EUA. Em Itu em São Paulo havia uma imensa geleira cujas marcas estão nas pedras expostas de uma encosta por lá.

Tudo era muito frio e ao mesmo tempo este frio todo fazia o mar bem mais raso do que os mares de hoje.

A Austrália era ligada diretamente à Nova Guiné e a Tasmânia era parte da Austrália.

O estreito de Bhering era uma língua de terra tão larga que por ela muitos e muitos povos da Ásia passaram a pé para a área que mais tarde seria as Américas, espalhando-se pelo continente de norte a sul.

No nosso flash de vida, que poucas vezes supera 100 anos, não estamos preparados para pensar em 10 000 anos, ou 8 000 anos como pouco tempo. No entanto 10 000 anos é um instantinho na vida da Terra.

Há 10 000 anos os nossos avós começaram a desenvolver a agricultura com rigor e o desejo de colher safras após safras para alimentar a sua gente, e trataram de fundir o cobre e o estanho para produzir peças de bronze para ajudar a cada tribo defender as suas colheitas dos vizinhos sem habilidades agrícolas.

Que faziam todos os esforços para beneficiarem-se do que não tinham tido o trabalho de plantar.

Dentre a turma que estava no que seria o Brasil estava o povo dos sambaquis.



Por alguma razão impossível de serem explicadas hoje estes povos produziam os seus lixões – jogando lá tudo o que não servia para comer – em gigantescos montes repletos de carbonato de cálcio, restos de conchas e de ossos que foram ficando por lá, lado a lado com as choças de suas tribos.

Todos os povos dos sambaquis viviam à beira mar.

Iam para o mar e traziam dele todos os peixes e todos os moluscos para alimentar suas tribos.

E continuariam a fazer isto indefinidamente se não tivessem a sua maneira de viver perturbada por agentes externos.
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Os indígenas guerreiros de tribos mais fortes do interior que começaram a matar e a comer os povos dos sambaquis da mesma forma que os Neandertais foram sendo trucidados pelos homo sapiens na Europa.

E o outro motivo foi a subida do nível do mar – pouco a pouco, ano após ano – que desmontava as tradições desta convivência de homens e marés há tantos milhares de anos.



E o mar subiu muito por pelo menos uns 1 000 anos, inundando tribos e inundando sambaquis dos quais há hoje oito claramente identificados em Cananéia em São Paulo.

Os sambaquis que eram longe do mar foram inundados por marés cada vez mais altas até que foram submergidos continuamente pelo mar.

Para serem descobertos por pesquisadores da USP há algumas décadas em expedições arqueológicas submarinas. Das quais há duas imagens neste post.

Há 10 000 anos havia menos de 20 milhões de seres humanos na Terra, mas havia basicamente o mesmo número de vulcões hoje existentes.

Vulcão não tem compromisso com horários: entra em erupção quando as lavas impulsionadas pelos movimentos internos de nosso planeta vivo as empurram para fora com grande força, uma força milhões de vezes mais poderosas do que a ação de todos os homens primitivos e de todos os homens atuais coordenados – sem isto fosse possível – para encher o ar de massa ígnea e poeira cuja presença na atmosfera mudava o clima na terra, não por alguns dias, mas até por séculos seguidos.


Estas reações terráqueas mudavam o clima, faziam subir ou descer o nível dos mares, permitiam ou não que as tribos cuidassem da sua agricultura e da criação de animais para conservarem-se vivos.




E no território que vivia a ser o Brasil há 8 000 anos o mar subiu e provocou mudanças profundas na vida repetitiva do povo dos sambaquis.

Basta encarar o nascer e o por de sol no Rio de Janeiro que será possível conquistar mais um ativista da sustentabilidade.

À pergunta se qualquer pessoa faria qualquer sacrifício para preservar toda aquela beleza não há uma pessoa sequer que se colocasse a favor da destruição de qualquer percentual mínimo que fosse de tanta beleza.

Só que nada do que eu possa fazer e do que nós possamos fazer impedira a subida das águas se for esta a programação da Terra. Nossa ação será também incapaz de promover qualquer outra mudança no clima da Terra.

Nem eu, nem ninguém vamos, em função desta realidade antecipada pelos cientistas sérios, deixar de cuidar de seu meio ambiente.

Desde o consumo excessivo de água, desde evitar o desperdício de alimentos, desde cuidar das plantas, do reflorestamento, da proteção dos rios e dos lagos.

Mas, de minha parte faço isto – e sempre fiz – não por temer o peso das leis já escritas e que venham a ser escritas. Mas por achar que será muito melhor viver num mundo mais parecido com o que me agrada.

Mas em nenhum momento vou me sentir como um paladino para salvar a humanidade, pois lamento informar já tenho informações suficientes para não acreditar nas afirmações dos que me asseguram que somos nós – esta raça humana tão fraquinha – que vai fazer qualquer diferença.

Alguém lembra que chegou a ser considerada como “verdade científica” a afirmação de que os gases das vacas holandesas afetavam a camada de ozônio?






segunda-feira, 18 de junho de 2012

Saber saber, saber fazer, fazer saber, fazer fazer. É só isto ou isto já é demais??? (1)

Ainda não tinha 30 anos quando ouvi esta série de conselhos de um professor no IAG da PUC.

Já que estava ali buscando mais saber esta frase ficou profundamente plantada na minha cabeça. A tenho repetido muitas vezes me sentindo muito sábio e um bom conselheiro todas as vezes que o faço.

Mas hoje por algum mistério que só o nosso cérebro pode explicar a frase me veio à cabeça de repente e me fez pensar com mais afinco sobre o que ela aconselha.

Será que isto é verdade?

Fui ao Google e à Wikipedia e descobri que este jogo de palavras, com os verbos saber e fazer constituem os 4 pilares da educação.

Pronto. O jogo de palavras deixou de ser um simples jogo de palavras que eu apreciava e se tornou de repente numa regra pétrea de educação:

se você passou por um processo educacional e não fez o caminho dos quatro passos está forçosamente mal posicionado.

Mal equilibrado, mal preparado, e, portanto não pode queixar-se se falhar no que está fazendo... Sua formação foi incorreta...



Quando ouvi a frase nos anos 60 do século passado a aceitei sem muitas sutilezas. Sem analisar muito o que era dito aquilo parecia ser uma verdade inconstestável.

Saber saber era você mesmo buscar o tipo de saber necessário à sua sobrevivência.

Evitar a perda de tempo com bobagens, ou dedicar muito esforço para aprender o que não fosse importante.E o seu tempo é de fato a sua única riqueza que não deve ser desperdiçada.

Saber fazer era transformar o saber adquirido em ações precisas, seguras dando a você e a quem contasse com você a certeza de estar fazendo a coisa certa da melhor maneira possível.

O fazer saber já era mais sutil.

Era tornar a sua capacidade do saber fazer em informação bem apresentada para uma porção de pessoas, que vieram a ser classificadas como stakeholders nos anos que se seguiram. As pessoas que poderiam fazer diferença em sua carreira precisavam saber o que você estava fazendo.

E o fazer fazer era assumir o papel de chefia, de comando, de inspiração e de realização individual recebendo o reconhecimento de todos os envolvidos.

Um processo fácil de entender, com etapas sucessivas para levar a pessoa do anonimato para o Olimpo dos deuses.




O que estava implícito na frase que guardei era um caminho simples para o saber aplicado. Um caminho pavimentado e bem sinalizado para chegar ao paraíso, onde quer que ele estivesse, na terra ou em algum céu.

Quatro passos em vez de 10 leis ou mandamentos, ou sete regras, ou qualquer outra relação de coisas a fazer. Apenas quatro dicas fáceis de lembrar sem espaço para dúvidas ou hesitações.

Cada um tinha sua chave para ir adiante para o pilar seguinte da educação.

A questão do saber saber de saída quando você se empenha em analisar o que está dizendo tornou-se cada vez mais complexa e já era mais do que complexa quando ouvi o conselho.

Convido você a mergulhar comigo nas considerações a seguir:



 A maior parte dos conhecimentos formais (básicos) que levávamos a uma universidade já estavam integrados ao “sistema operacional “ de todos os estudantes.

o As matérias aprendidas são as mesmas para todo mundo. O que poderia haver de diferente eram professores que conseguiam “vender” suas disciplinas com mais entusiasmo do que outros professores – da mesma matéria – e tornavam as suas aulas mais prazerosas.

 Há também a vocação individual (genética familiar) que explica porque há tantos artistas em famílias de artistas e tantos professores em famílias de professores.

 A palavra vestibular era perfeita para definir este primeiro passo do estudante rumo ao saber saber. Era como entrar num vestíbulo (lobby) de conhecimento que não iria representar com precisão todo o resto que seria vivido nas outras dependências deste edifício.

 Na Idade Média de tão mal faladas as universidades tinham as suas aulas em latim, que foi mesmo a segunda língua universal depois do grego. Os poucos alunos que chegavam a elas iam para lá para especializarem-se nas 7 artes do homem.





 As 7 matérias eram integradas no Trivium e no Quadrivium. Uma sábia apresentação de ferramentas para dotar o estudante do embasamento tecnológico e cultural para formar cidadãos mais capazes.

 Citando textualmente a wikepedia : O Trivium (do latim tres: três e vía: caminho) era o nome dado na Idade Média ao conjunto de três matérias ensinadas nas universidades no início do percurso educativo: gramática, lógica e retórica.

O trivium representa três das sete artes liberais, as restantes quatro formam o quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música.


 O contraste entre os estudos elementares do trivium face aos mais avançados no quadrivium originou a palavra "trivial", adjetivo para caracterizar algo que é básico, simples ou banal.

 Diante das reduzidas conquistas intelectuais no período da Idade Média esta questão do trivium e do quadrivium ficou meio esquecida durante séculos. E não gerou movimentos para recuperar o que os estudantes aprendiam e especular se não haveria ali alguma indicação importante.

 Mas, vamos lá: o início do saber saber era baseado em três matérias que exigiam muito pensamento, muita interação entre alunos e professores.

Gramática era a única forma de tornar as palavras reunidas por alguém, em relação a qualquer tema, capazes de transmitir verdades.

 Era algo como uma bicicleta que para ser usada exigia que a pessoa em primeiro lugar fosse capaz de equilibrar-se nela.

 A gramática como ciência é bem antiga e não se aplica apenas a uma língua. Todas as línguas humanas, das mais simples às mais complexas têm as suas gramáticas.

 Um texto que não respeite as regras gramaticais de uma língua será sempre um texto impreciso, com a compreensão prejudicada quando não venha a ser totalmente desvirtuado. Uma língua será tanto mais precisa quanto seja precisa a sua Gramática.

 Aprender Gramática numa universidade da Idade Média visava - tal como o latim usado como a língua franca - estabelecer um denominador comum , que assegurasse que tudo o mais a ser aprendido obedeceria a um programa operacional único e inquestionável.

 Não havia no estudo da Gramática nenhuma consideração para o que seria transmitido com o suporte da Gramática.

 Daí a segunda matéria do Trivium: a Lógica.

 Da mesma forma como a Gramática não se prende a uma língua e não às outras a Lógica tomava em consideração as considerações quanto ao uso das palavras ou dos números. Desde cedo tornou-se claro que mesmo ao usar as palavras, com todo o rigor da gramática não seria possível assegurar que todo o texto gramaticalmente correto seria verdadeiro.

 A maneira de pensar sobre um problema determinava como uma solução – ou várias soluções – podiam ser dadas a ele.

 E sempre na ânsia de ganhar um debate uma disputa poderia ganhar mais discussões quem se utilizasse de uma lógica que apelasse mais para a emoção do que apenas para a exposição dos fatos realmente capitais do que estava sendo discutido.

 É de admirar-se que em plena idade média as universidades tenham dedicado os seus melhores professores para exercitar os alunos em processos tão sofisticados e aparentemente então
sem uso prático.

 A nossa visão da Idade Média é o de um momento na história da humanidade em que nada de importante era debatido. Questões mais agudas entre pessoas, grupos ou nações geravam embates , conflitos e guerras, onde a lógica maior era a da força militar.

 O estudo da lógica nas universidades da Idade Média corresponderia ao estudo da roda antes de sua utilização em carros que ainda não teriam sido inventados.

 Vamos voltar à lógica, mas antes vamos chegar à terceira disciplina do Trivium: a retórica.



 Palavras não são apenas sons e o alinhamento de frases corretas – a única razão para o uso das palavras é convencer outras pessoas de sua adequação.

 Aristóteles que liderava a filosofia grega tinha um tratado sobre retórica pois melhor do que qualquer outra pessoa sabia que sem o uso da retórica suas ideias de nada serviriam pois não seriam suficientes para empolgar ninguém.

 O caminho para obter a adesão às ideias transmitidas por palavras tinha caminhos críticos que uma vez seguidos contribuíam em muito para o entendimento do que estava sendo dito.

Uma pausa agora neste extenso – para os fins deste post – sobre o Trivium.


Os profissionais e estudantes de comunicação jornalística ou de marketing se leram o que foi dito aqui sobre o Trivium hão de concordar que seria um paraíso um mundo em que eles, e seus colegas, tivessem passado pelo caminho do Trivium e exercer a suas profissões dominando a Gramática, a Lógica e a Retórica.

TODOS OS LIVROS sobre comunicação poderiam ter sido escritos na Idade Média pois estariam TODOS baseados no Trivium adaptado aos dois últimos séculos – o 20 e o 21 .

O saber saber para os que têm vocação para a comunicação logicamente não poderiam jamais desconhecer a força do Trivium.

Aguarde a evolução deste papo sobre o saber saber, saber fazer, fazer saber e fazer fazer. E ainda como entra neste processo o aprendizado do Quadrivium




quarta-feira, 13 de junho de 2012

A vontade de acreditar e de buscar a verdade mesmo que isto lhe custe a mão.



Ser cético é olhar para tudo e para todos com um grau variável de desconfiança.

Os céticos sempre são vistos como gente séria e confiável, o que lhes incentiva a serem cada vez mais céticos...

Diante da incapacidade humana de dizer a verdade, não apenas movidos por um comportamento malévolo, mas pela barreira do esquecimento, podemos ter a certeza de que vamos ouvir ler e lidar com a mentira todo o tempo.

A mentira pressupõe que o mentiroso saiba a verdade, mas intencionalmente a oculta, ou a disfarça quando se dirige aos outros.

Quando, na hipótese abordada no segundo parágrafo alguém não fala a verdade e mente por não lembrar-se muito bem do que ocorreu trata-se de um erro.

Um pecado menor do que a mentira pura e simples.

Os efeitos da mentira e do erro são iguais e avassaladores para os amantes da verdade, e são a maior justificativa para a reação dos céticos diante de qualquer informação.

Uma verdade indiscutível é que todos têm de levar em conta é que as informações não podem ser aceitas como verdades.

Há momentos que precisamos saber até onde são verdadeiras as informações para agirmos com todo o nosso empenho, mas a maioria das vezes a busca da verdade por trás de tudo o que lemos ou ouvimos é apenas um belo exercício para satisfazer a nossa própria vaidade:

Não me deixo enganar...

Em Roma há uns 2000 anos há no Átrio da Igreja de Sta Maria Cosmedin, um baixo relevo que ganhou o nome de boca della veritá . Um deus, possivelmente Oceanus, ficava com a boca aberta, de onde jorrava água quando foi instalada, e que depois sem água para jorrar passou a ser usada pelos gozadores romanos como forma de obter a verdade de suas namoradas e namorados.

A pessoa não precisava jurar que estava dizendo a verdade. Bastava dizer alguma coisa e enfiar a mão na boca de Oceanus.

Se fosse mentira Oceanus fechava a boca e cortava fora a mão do mentiroso.

A obtenção da verdade era um processo em que a psicologia – ainda não tornada uma ciência – tinha de ser usada com grande habilidade pelo inquiridor.

O temor de ter a mão comida pela boca de pedra tinha de ser tão assustador que o mentiroso ou a mentirosa acabavam dizendo a verdade para o perguntador esperto.

Não há registro na história de Roma de alguém que tenha tido a mão comida pela boca della veritá. E até hoje e em Roma, como em todos os lugares do mundo , as mentiras comeram soltas durante todos estes milênios.

A boca tornou-se uma atração turística em Roma, que mesmo sendo de pedra está desgastada pela inserção de milhares de mãos todos os dias por todos os séculos.

Se a boca funcionasse mesmo e pudesse ser reproduzida (possivelmente na China) e vendida por toda a Terra, iria fazer um estrago globalizado...

E o estrago não seria como pode parecer a infinidade de manetas andando pelas ruas da Terra, seria na verdade a multidão de milhões, bilhões de infelizes que para não perderem as mãos estariam condenados a dizer sempre a verdade.


O caos seria instalado.

Não haveria governos, políticos, empresas, famílias, religiões, nem dinheiro, nem coisa alguma em que a incerteza transformada em certeza para uns permitisse a estes uma liderança totalitária sobre todos os demais.

A Terra, por medo da mentira, seria alguma coisa mais próxima e ainda mais terrível do que o Inferno de Dante.

Justamente o lugar em que ele disse que haveria um círculo dedicado a punir pela eternidade os mentirosos pecadores.

O Almanaque recomenda que você cuide apenas( e com muita parcimônia) a descobrir apenas as verdades essenciais à sua vida.

Não caia na tentação de ser um verdadeirófilo empedernido.

Pois se fizer isto é garantido que a sua vida será muito pior do que o inferno.

Pelo menos do que aquele inferno descrito por Dante com tanto sucesso...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sem mapas você não pode chegar a qualquer lugar. E se chegar nem vaI SABER que chegou. Napoleão tinha autoridade para transformar este conceito numa verdade indiscutível.





Ainda há, mas já houve mais, uma tentação de associar a inteligência de marketing à inteligência de grandes generais ao longo da História.

O marketing tem pouco menos de 100 anos enquanto os generais perdem e ganham batalhas há séculos. Os estrategistas ganham por antiguidade.

Em qualquer livraria as edições sucessivas da “Arte da Guerra” de Sun Tzu , um general e filósofo chinês que teria vivido de 544 A.C a 456 AC comprovam a verdade de suas afirmações sobre as relações humanas no momento exacerbado de uma guerra.

Não só naqueles tempos como em todos os tempos posteriores aos seus 88 anos de vida.

As guerras mais empedernidas dos dias de hoje, lutadas todos os dias, são as guerras do marketing.

E até as guerras com combates entre soldados são também guerras do marketing , o que poderia comprovar se me fosse exigido... Cito até o Clausewitz que garante serem as guerras uma extensão da política.


Quando nos perguntamos o porquê desta admiração por textos militares do passado proponho três razões maiores:

1. O peso da credibilidade instantânea e grátis obtida pelo profissional que junta à sua argumentação o aval de um nome reconhecido como estrategista vitorioso.

Este gesto identifica o profissional de marketing como uma pessoa muito bem “assessorada” confiante no estrategista citado para “comprovar” alguma proposta diferente.

Que ele adoraria ver transformada num dogma – que dispensa comprovações – mas é capaz de explicar por adesão as propostas feitas por ele em seu plano.

2. O apelo quase irresistível à vaidade humana dos seus interlocutores, é o segundo grande motivo de fazer citações de estrategistas.

Ao citar um estrategista histórico pouco lido por gente de hoje - que em teoria deveria conhecer as suas lições assim como os colegiais tinham de saber a tabuada – poucos serão capazes de se opor ao estrategista citado. Citando outros conceitos dele mesmos conflitantes com o usado pelo profissional de marketing.

Afinal ninguém é estrategista,poucos estiveram em combates reais e um bom número destas pessoas cheias de observações sobre novas propostas acha mais fácil referir-se a ensinamentos esportivos - e se perdem em metáforas sobre o futebol “que qualquer um entende”. Ao preferir fazer metáforas sobre futebol correm o risco de serem considerados imbecis l que só parecem entender sobre futebol embora jamais tenham sido técnicos de clube algum.

3. Para “ganhar” uma briga sem precisar brigar. Coisa que meninos mais fracos faziam ao desafiar os rivais maiores levando como acompanhante o irmão mais velho e mais forte que não iria deixá-lo apanhar caso a argumentação com o rival não garantisse a vitória contra ele.

Por estas três razões e mais umas dez não relacionadas aqui é que gente como o Sun Tzu, César, Maquiavel, Clausevitz, Bismark ao serem citados num planejamento ajudam quem os cita a ganhar a argumentação.

Nesta lista vejo Napoleão muito esquecido e injustamente ignorado.

Napoleão viveu no século 19, foi o mais bem sucedido de todos os generais da história, mudando inclusive a nossa história no Brasil. Tornou a França na grande referência intelectual dos brasileiros até pelo menos o século 20.

Napoleão perdeu parte de seu brilho quando seus compatriotas foram salvos de uma derrota acachapante na Segunda Guerra Mundial diante dos alemães pelos anglo-saxões seus rivais históricos.

Napoleão (isto é apenas uma comparação) acabou morrendo ou sendo assassinado por seus inimigos em Santa Helena, a ilha em que ficou preso depois de ter perdido a guerra e seu trono para os ingleses em Waterloo.

Quem também passou por uma queda de prestígio semelhante em vida foi Jesus Cristo que mesmo sendo filho de Deus foi crucificado e morto da maneira mais humilhante que havia na sua terra. Lado a lado com dois ladrões de galinhas, já que não havia muito mais a roubar naquela região pobre do império romano.

Assim como a cruz - que explicitava a morte, a condenação e o descrédito de Jesus- tornou-se o símbolo, o sinal, de sua vitória, as estátuas, estatuetas, pinturas, livros sobre Napoleão criaram a sua própria religião que incluía até as vestimentas de mulheres e homens na França.

Napoleão como imperador “civilizou” Paris, construindo seus bulevares, suas praças, trouxe o grande obelisco do Egito e o postou em praça pública onde mais de 40 milhões de visitantes estrangeiros o visitam todos os anos na cidade de maior movimento turístico do mundo, quase o dobro da segunda que é Londres.

No Rio de Janeiro toda a beleza dos prédios e avenidas do início do século 20 é descendente da Paris reinventada pelo corso baixinho que ganhou todas as suas batalhas na Europa.

As militares, diplomáticas e políticas.

Menos duas. Aquela contra o “general inverno” na Rússia onde o seu exército congelou, morreu de fome e, os que conseguiram sobreviver, chegaram em frangalhos.

A outra derrota consequente à derrota diante da Rússia foi em Waterloo.

Mas enquanto ganhou as guerras em que se meteu este pequeno corso mudou a política governamental na Europa, tornou a França um exemplo administrativo para o mundo e em especial para o novo mundo.

Instituiu um quarto poder junto ao Legislativo, Judiciário e Executivo. Criou o poder Moderador – exercido por ele – para justamente moderar os conflitos entre os três dando um tranco legal nos integrantes destes poderes que demonstrassem que seus desentendimentos poderiam (na ótica de Napoleão ) prejudicar a nação.

Já imaginou o que não iria acontecer com o Lula, O Gilmar e o Jobim se existisse um poder moderador no Brasil?

E não é que existiu? O poder moderador existiu aqui, na base do recorta e cola de d.Pedro I que achava o Napoleão e os franceses (e francesas) tudo o que havia de bom no mundo, copiável sem receios, pois seria o que de mais certo se poderia fazer.

Duas laudas até chegar à questão dos mapas do título...

Mas, espero justificar este meu anti-lead, este nariz de cera, para trazer o assunto do post ao palco.
Com o que vem a seguir.

Napoleão era obcecado por mapas das regiões em que iria travar batalhas.

Sem mapas precisos – nada de mapas apenas bonitos ou artísticos – Napoleão não entrava em combate.

Para obter os mapas usava os seus geógrafos e cartógrafos, apelava a espiões, cercava agentes de correios, políticos da região e sabia exatamente onde estaria pisando.

Ele conhecia o poder de fogo de seus soldados e sabia como usar este poder nos campos de batalha .

Em guerras de marketing é desta mesma forma que são obtidas as grandes vitórias.



Jeff Bezos, o criador da Amazon, provou ser um brilhante estrategista ao imaginar como analista de investimentos da bolsa de Nova York qual seria a a areaa do marketing que iria mais se beneficiar das novas armas da internet.

Chegou ao marketing direto de livros, que jamais poderiam estar expostos todos de uma vez nas estantes e balcões das livrarias – por maiores que elas possam ser.

Estudou o assunto – fez os seus mapas precisos do território em que iria lutar – e transformou em pouco mais de 8 anos a Amazon na maior livraria on line do mundo.

Mas, maior livraria é ainda pouco.

Bezos criou um sistema de vendas em que os produtos são de fato oferecidos como um desejado serviço de informação pelos clientes cada vez mais fiéis à Amazon.

Nenhum general ou estrategista do passado conquistou mais de 200 milhões de súditos coisa que o Bezos tem hoje.

O fato não muito comentado diante deste sucesso na guerra do marketing é que Bezos seguiu as lições do Napoleão, mesmo que nunca tenha lido sobre a obsessão dele pelos mapas precisos.

Portanto o Almanaque recomenda que todo profissional de marketing se inspire com o Bezos tendo como programa operacional a sabedoria do Napoleão.

Procure obsessivamente saber onde vai travar as suas lutas.

Se não ganhar todos os combates com certeza vai errar menos do que seus concorrentes e isto já será uma grande vitória.