terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Tenho medo do rei estar nu e só eu estar percebendo!!!

Assisti o comercial da Globo de fim de ano. A primeira reação foi de entusiasmo. Roberto Carlos como o intérprete de mais umr novo tempo, como o maestro de uma constelação de astros e estrelas que a Globo traz aos milhões de telespectadores em nossas casas todos os dias. É uma equipe superior a qualquer outra, e para chegar a este superior pode ser usado qualquer critério: em qualquer dos critérios sempre o que a Globo promete trazer, ou que já trouxe estará no nível mais elevado. Dormi sem pensar muito mais sobre o comercial de fim de ano, pois, afinal de contas, não tenho com a Globo qualquer envolvimento maior. De forma bem direta, a Globo não paga nem ajuda a pagar o que ganho. Mas é impossível não ser fã da Globo. A cada novo tempo ao longo destes anos, a emissora define e redefine o que possa ser entendido como fazer televisão. Mas, numa coincidência perturbadora, o primeiro documento que encontrei em meu escritório hoje pela manhã é referente ao livro “The Chaos Scenario” de Bob Garfield que imprimi como referência e leitura posterior há algum tempo. O Bob Garfield dedicou um bom número de anos à pesquisa sobre as mudanças porque estamos passando. Os capítulos de seu livro, que listo a seguir dão a medida do que ele concluiu: 1. O fim de tudo ( The death of everything) 2. A post-advertising age 3. O fracasso mais bem sucedido do mundo?
4. Falar é barato 5. The widgetal age 6. Comcast must die 7. Guess 8. Sometime you Just have to lego 9. Off, off, off Madison 10. The powersa that be 2.0 11. Nobody is safe from everybody
Há um blurb para cada capítulo e o que mais chama a atenção é a sempre presente idéia de que estamos vivendo um fim de era, misturado e combinado com o começo de várias eras apoiadas no mundo digital. Não se trata de uma especulação que todos podemos e temos direito de fazer. O Garfield pesquisou, estudou e chegou a resultados que comprovam as conclusões a que está chegando. E que valem 100% nos EUA e na Europa.E que em pouco tempo também serão verdadeiras no Brasil. No Brasil há hoje em 2011, mais meios digitais pessoais para chegar a toda a população do que indivíduos na população. Algo como 220 milhões de celulares para 190 milhões de pessoas. Ao sair da ESPM no Rio, onde dou aulas, por volta das 22 horas de um dia da semana, cruzo com uma porção de mendigos acomodados sob cobertas, deitados em caixas de papelão, sob as marquises. Por mais de uma vez vi alguns destes mendigos falando em seus celulares. Vamos voltar agora ao comercial da Globo e o seu mais poderoso elenco jamais reunido num só comercial. A produção com o padrão de qualidade da Globo exibe uma folha de pagamentos cujo valor total é incalculável. Ou deveria ser. Ninguém precisa ter recebido um centavo por sua participação, o simples fato de estar naquele comercial é o maior sinal de sucesso profissional que alguém possa exibir. O que a Globo mostra em seu comercial de fim de ano é a exibição amistosa e emocional do elenco mais sofisticado que uma organização pode apresentar. É o brilho e o profisionalismo de cada integrante do grupo construído ao longo de uma série de programas que os tornaram em ícones da admiração popular, a um custo combinado de seus rendimentos, e dos rendimentos de centenas de outros talentos que deram a eles as condições de brilhar encantar o público. O que me leva a pensar no livro e nas conclusões do Bob Garfield. A principal fonte de renda da Globo para pagar aquela festa é o pagamento dos espaços comerciais em seus programas. E a receita assim obtida está com seus dias de mágica ameaçada. Não pela concorrência – ansiosa para poder um dia se deparar com o “problema” da Globo. . Este futuro de sucesso econômico sem fim está ameaçado pelo celular que está em todos os bolsos ...do mendigo ao bilionário em seu iate de 200 pés. A capacidade de antecipar-se ao que os novos tempos trazem desde a imigração do homo sapiens da África para o resto do mundo há 70 000 anos, ao vale do silício, tem assegurado poder e glória ao longo da história para alguns gênios. O conto do Hans Christian Andersen sobre o rei nu, tornou-se metáfora mais precisa sobre a capacidade de umas poucas pessoas perceberem que algo tão badalado e respeitado pode não mais merecer a admiração de todos. E o que o Garfield demonstra em seu livro é que há uma porção de reis nus circulando por aí e fazendo crer a seus súditos que estão magnificamente vestidos. Ao longo dos meus mais de 50 anos de profissão dedicados ao marketing já vi, como todos os meus companheiros de viagem, as mudanças que afetaram empresas e mercados no Brasil e no mundo. Como frase espirituosa (pelo menos eu a acho assim) costumo dizer que a única coisa que não muda, ou mudou, ou mudará é a mudança. O comercial de fim de ano da Globo para minha preocupação como fã da emissora é que seja uma sutil exibição de um rei nu.