quarta-feira, 9 de junho de 2010

Desculpe pai, é bonito, mas não é verdade...

Para perceber como a vida é rápida só existe uma forma: viver.

Por mais que racionalmente possamos imaginar o futuro o simples fato dos dias se sucederem um a um nos leva a pensar que tudo ocorra muito lentamente.

Nada mais enganoso. 2010 já está bem distante, em termos humanos, da década em que nasci. Mas, para mim, parece que foi tudo muito recente.

Lembro de um soneto recitado de memória por meu pai quando eu ainda era um rapazola que ao mesmo tempo me entusiasmava e me assustava. Nele o autor, um padre, cearense como meu pai, cultuado como "o príncipe dos poetas cearenses", fazia a separação nítida do mundo dos jovens do mundo dos idosos.

Foi para mim um tremendo incentivo para que enfrentasse o mundo sem medo de perder tempo, pois o tempo era para os jovens a munição sempre disponível, que iria garantir meu poder de fogo durante um bom número de anos.

E estes anos na visão minha visão de rapazola durariam enquanto eu desejasse que perdurassem.

Mas o soneto, reproduzido a seguir reserva um fim de jornada nada otimista para o mesmo rapazola quando, por simples decurso de prazo, ele conte com mais anos adicionados à sua vida.

Ora, querido pai, peço licença para discordar do padre Antonio Thomaz e de você.

Eis o soneto:

CONTRASTE Antonio Thomaz Lourenço

“Quando partimos no verdor dos anos
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.

Rindo e cantando, céleres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.

Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,

O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás!”


Sempre que me lembrava do soneto ao longo da vida receava o momento em que a última estrofe me atingisse e morria de medo de me tornar um trator arrastando desenganos atrás de mim.

Confesso que a vida vivida por mim até hoje esteve e está sempre em ebulição e para meu profundo prazer declaro que as minhas esperanças continuam comigo à frente.

Ontem quando fiz uma palestra no evento DBM 20 anos e principalmente ao ouvir as palestras de meus colegas tive a certeza de que por mais tempo que tenha à frente há muito mais esperanças para levar comigo à frente do que desenganos para tornar tristes os meus dias.

Graças a Deus.

Graças a Deus, e também a meu pai e ao padre pela permanência num cantinho de minha memória deste soneto como um sinal de alerta vermelho.

Hoje eu o recomendo para assombrar criancinhas levando-as a enfrentar o mundo mais profissionalmente apesar de sua pouca idade...

É como aquele estandarte que os legionários romanos levavam nas marchas triunfais dos generais em suas marchas triunfais em Roma: Memento mori.

2 comentários:

João Marcelo disse...

Sim, é mesmo bonito! Ainda me lembro quando eu era seu estagiário na Ogilvy Direct.... Uau! Já faz quase 20 anos!!!! E as esperanças continuam mesmo à frente!

Pio Borges disse...

Marcelo, celebro a vida cada dia ao despertar. E posso assegurar a você que a ÚNICA maneira de viver e sobreviver é levando sempre as nossas ersperanças à frente. Um exército de Brancaleone, às vezes, uma grande operação digna de um César em outras.
O que é preciso é buscar mais os sucessos do que chorar pelos desenganos.

abração